RIO 40 graus(1) & RIO 38 alunos

<p> &ldquo;Minha alma canta&rdquo;, quando vejo a natureza de um Rio exuberante,<br /> onde os morros, verdadeiras pedras preciosas incrustadas,<br /> convivem entre os pr&eacute;dios, sem o menor constrangimento.<br /> A mata atl&acirc;ntica debru&ccedil;a nas suas baias, o esplendor e a beleza junto ao mar.<br /> Imposs&iacute;vel n&atilde;o se apaixonar pelo RIO, que passou em nossas vidas em Setembro.<br /> <br /> Como um mestre-sala, K&oacute;s, o nome carioca mais ouvido em toda a viagem, nos<br /> apresenta esta Cidade Maravilhosa, que tanto conhece - nos seus detalhes!<br /> <br /> A nossa chegada no albergue foi surreal, n&atilde;o dava pra entender o caos do espa&ccedil;o,<br /> das instala&ccedil;&otilde;es, dos banheiros, das goteiras, da &ldquo;samanta&rdquo;, enfim tudo foi<br /> assustador. Mas aos poucos a gente come&ccedil;ou a entender que ficava a duas quadras<br /> da praia de Ipanema, no bairro mais charmoso do Rio.<br /> <br /> Entrar no &ldquo;Maraca&rdquo;, sempre &eacute; uma emo&ccedil;&atilde;o, Fluminense X Gremio.<br /> A malandragem, a ginga, os passes, o chute a gool !<br /> Isso, tamb&eacute;m &eacute; o RIO.<br /> <br /> No domingo de manh&atilde;, fomos visitar o Mosteiro de S&atilde;o Bento.<br /> Ali sentimos a presen&ccedil;a do divino, derramando Barroco nas imagens e nos entalhes<br /> de madeira, misturados com o cheiro do incenso e o canto gregoriano.<br /> &ldquo;N&atilde;o preciso entrar no teu templo, teu frontisp&iacute;cio me basta&rdquo;!<br /> <br /> A bossa nova &eacute; a m&uacute;sica do Rio, de Ipanema, do Leblon, de Copacabana...<br /> &ldquo;Rio serras de veludo, que sorri de tudo&rdquo;<br /> Rio &eacute; mar...&eacute; Fasano.<br /> O hotel mais chic de Ipanema, di&aacute;ria de 7 mil reais, lua de mel dos globais<br /> Olha que cheia de gra&ccedil;a a poltrona do Philippe Starck<br /> Os portugueses, conforme Segre, quando chegaram ao Rio,<br /> n&atilde;o sabiam se era um lugar ou uma miragem ou um sonho, diante de tanta beleza!<br /> Neste mesmo lugar, anos mais tarde desmancharam o Morro<br /> como se fosse um Castelo (de areia) e aterraram o Flamengo.<br /> A terra ficou plana para abrigar os mist&eacute;rios dos minist&eacute;rios<br /> e entraram mar a dentro com a terra brasilis.<br /> <br /> A Cidade da M&uacute;sica, ah! a m&uacute;sica de Portzamparc, uma sinfonia de formas, de<br /> bem&oacute;is e sustenidos que ser&aacute; escutada nos pr&oacute;ximos 10 anos em todo o Rio.<br /> &Eacute; no Rio, e n&atilde;o poderia ser noutro lugar do Brasil, esta homenagem &agrave; m&uacute;sica.<br /> S&oacute; os gregos ofereceram ao deus da m&uacute;sica, a sua gl&oacute;ria.<br /> Apolo deus da m&uacute;sica e da poesia, o deus da luz do sol, entra nas frestas e seteiras<br /> desta Cidade (maravilhosa) da M&uacute;sica do Rio, de janeiro a dezembro.<br /> Uma menina passou pela frente e perguntou pra m&atilde;e: quando este barco vai partir?<br /> ...as crian&ccedil;as sabem das coisas.<br /> <br /> Chegamos no s&iacute;tio do Burle Marx numa manh&atilde; de chuva, dizem os budistas que a<br /> chuva &eacute; uma gra&ccedil;a, uma d&aacute;diva. &Eacute; verdade, a vegeta&ccedil;&atilde;o verdejante, lacrimejava,<br /> n&atilde;o dava pra perceber se era nos nossos olhos ou na paisagem...s&oacute; sei que era<br /> muito forte o verde de &ldquo;&aacute;gua forte&rdquo; da chuva.<br /> A &aacute;gua estava presente dentro e fora, era a vida, precisava escutar o fio d&aacute;gua, era<br /> a fonte de inspira&ccedil;&atilde;o no seu atelier entre livros e lustres com plantas e frutas secas,<br /> mimetizando a natureza que estava logo ali, rondando as paredes de pedras.<br /> O som da bica, tamb&eacute;m se misturava com o barulho das festas, das muitas<br /> conversas, dos risos, das ta&ccedil;as, dos muitos brindes. N&atilde;o teve filhos, mas muitos<br /> amigos, amigos do verde da mata atl&acirc;ntica da Tijuca. Trouxe este verde junto com<br /> as pedras do centro velho do Rio para seu s&iacute;tio e simplesmente deitou-as entre as<br /> folhas. Burle Marx morreu em 1994, foi um ano de grandes perdas, Tom Jobim seu<br /> parceiro da natureza e meu pai, meu grande parceiro.<br /> <br /> Casa das Canoas como sonhava te conhecer!<br /> A forma e a pl&aacute;stica formam uma nota s&oacute;, como a m&uacute;sica.<br /> &ldquo;Como gostava daquela casa da grande pedra ali existente que t&atilde;o bem se integra<br /> na arquitetura&rdquo; Niemeyer<br /> &Eacute; a pr&oacute;pria forma livre que dan&ccedil;a suavemente pela mata a dentro...<br /> <br /> No espa&ccedil;o Cultural Banco do Brasil uma exposi&ccedil;&atilde;o para Clarice: a descoberta do<br /> mundo... &ldquo;o que atrapalha ao escrever &eacute; ter que usar as palavras, se eu pudesse<br /> escrever por interm&eacute;dio de desenhos&rdquo; Lispector.<br /> E seu sonho foi realizado por um artista que projetou centenas de gavetas at&eacute; o<br /> teto, ao abrirmos algumas delas acendia a luz dos versos de Clarice,<br /> manuscriturados ou simplesmente desenhados em folhas de papel.<br /> <br /> De repente, no Parque Guinle, uma senhora aristocrata do Rio de Janeiro nos<br /> convida a entrar e conhecer o que o Lucio tinha planejado no seu apartamento cheio<br /> de quadros, telas e bem pr&oacute;ximo &agrave; mesa do jantar, como a santa ceia, a frase de<br /> Didach&eacute;: Ao partir o p&atilde;o; gra&ccedil;as e louvor &agrave;quele que d&aacute; a vida e a sustenta.<br /> <br /> &ldquo;Vou voltar, sei que ainda vou voltar&rdquo; pro RIO<br /> Depois de 28 anos voltei pra te ver<br /> e ouvir cantar uma Sabi&aacute; em Tom Maior<br /> Mas vou voltar, sei que vou voltar pra te ver!&nbsp;<br /> <br /> ___________________________________________________<br /> (1)Rio, 40 graus &eacute; um filme brasileiro de 1955, com roteiro e dire&ccedil;&atilde;o de Nelson Pereira<br /> dos Santos.</p>
Fonte:Gladys Neves Publicado em:30-09-2011 12:39:14